O teu post está muito porreiro, mas precisa de uns reparos no que toca ao orçamento de freelancers / preço de alguns serviços
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A forma de encontrar o valor por hora numa TI costuma ser bastante simples. Cada tipo de recurso possui um ordenado base, que dividido por 22 e depois por 8 permite encontrar o valor por hora. Esse valor por hora é quanto a empresa paga, por hora, a esse recurso. De forma a ganhar lucro com o projecto, a empresa tem de vender a hora esse recurso por um valor superior.
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Tudo o que foi dito para as TI é verdade para os freelancers. Só que neste caso é esperado que o preço seja mais baixo do que se o projecto fosse efectuado por uma TI. Isto deve-se a um conjunto de razões, umas mais válidas que outras, mas de onde se destaca um dos maiores receios: o de um freelancer "desaparecer" de um momento para o outro ou não ter interesse, ou disponibilidade, de fazer manutenção e suporte.
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Se um freelancer calcular assim o seu valor a pedir por hora, tem um risco bem grande de ir rapidamente à falência, IMO. Do meu ponto de vista, o freelancer tem que ter um método um pouco mais exótico para calcular a sua taxa / hora (não estou tão familiarizado com o sistema nas empresas, por isso falo apenas do que sei
).
Em primeiro lugar, há que calcular o número de dias por semana que normalmente trabalha (números decimais são bem-vindos). Multiplica-se esse valor por 52, e tem-se o número de dias por ano que, numa situação ideal (?) seria possível trabalhar. No entanto, há que descontar uma estimativa dos dias em que não se fará trabalho - férias, feriados, períodos de doença e outras emergências.
A partir deste valor (aka, os dias / ano que se espera estar disponível para trabalhar), há que multiplicar uma estimativa do número de horas por dia em que se planeia trabalhar.
Como não é de esperar que se todas as horas possam ser facturadas, há que multiplicar esse número pela percentagem de horas que se espera que possam ser cobradas. Exclui-se, portanto, o tempo que se perde a administrar o negócio, o tempo que não é utilizado porque não se tem trabalho, etc. Este é o número de horas taxáveis por ano.
Agora que já resolvemos o problema do tempo, vamos debruçar-nos sobre o problema das despesas. Como freelancer, há que contar não só com o montante das despesas pessoais (como renda de casa, empréstimo carro + manutenção + gasolina, despesas diárias, seguros, férias, impostos, poupanças, etc), mas há também que assumir despesas inerentes ao negócio (como renda do escritório, custo de viagens, despesas com contabilidade + advogado, impostos, equipamento/mobília para o escritório, custos de publicidade, seguros, etc) . Aqui há que contar
mesmo todas as despesas. É sempre boa política deixar uma maquia também para despesas variadas que não se inserem em nenhuma categoria (mas que aparecem sempre!). Notar que devem ser calculadas as despesas para um ano.
Dividindo este valor pelo número de horas taxáveis por ano obtém-se uma quantia bastante importante -
o valor mínimo a cobrar por hora de modo a conseguir equilibrar as contas. Menos que este valor, e há prejuízo.
Vamos a um exemplo prático para o freelancer X:
Número de dias por semana que trabalha: 5.5 (5 dias úteis, e a manhã de sábado, por exemplo)
Número máximo de dias por ano que trabalharia: 5.5 * 52 = 286
Número de dias por ano que não espera trabalhar: 20 + 10 + 6 (férias + período de doença + feriados)
Número de dias por ano que deve trabalhar: 250
Número de horas por ano que deve trabalhar: 250 * 8 = 2000
Número de horas facturáveis por ano: 2000 * 70%/100 = 1400
Despesas pessoais por ano: €12000 (este valor é complexo de calcular, e depende muito de cada um, por isso assumi um valor médio de €1000)
Despesas com o negócio por ano: €9000 (novamente, este valor é complexo de calcular, e depende muito de cada um, por isso assumi um valor médio de €750)
Despesas totais por ano: €21000
Valor mínimo a cobrar por hora: 21000 / 1400 = €15 (sem IVA, como é claro)
OK, agora que já estabelecemos que para o freelancer X não compensa trabalhar por menos de €11/hora, temos que pensar no valor que o freelancer X deve cobrar.
Este é terreno perigoso, pelo que é necessária muita cautela. Por um lado, cobrar demais acaba por ser prejudicial para o designer, na medida em que parte dos clientes opta por outro freelancer que cobre menos. Por outro lado, cobrar menos do que vale o trabalho tem tendência para apelar à clientela errada (vocês já os conhecem, de certeza...as criaturas que acham que um logo é algo para custar €30...e até o sobrinho de 13 anos dele é capaz de o fazer no photoshop) e deprimir o freelancer, que tem tantos projectos, que começa a produzir trabalho inferior.
OK, avisos feitos, vamos ao que interessa. É preciso ter em mente que o trabalho que o freelancer desenvolve é importante para o cliente, e ajuda-o a conquistar seja qual for o objectivo que ele tem em mente. Como tal, é perfeitamente razoável assumir, no valor a cobrar ao cliente, que temos direito a uma recompensa pela qualidade / utilidade do trabalho efectuado. Esta recompensa vem, normalmente, na forma de uma percentagem do valor mínimo a cobrar por hora.
O valor percentual mais comum (e, vulgarmente, o razoável) é de 50%.
Assim, no caso do freelancer X:
Valor cobrar por hora: 15 + 15 * 50%/100 = €22,50 (sem IVA, como é claro)
E temos o valor calculado! Agora, há que ter em atenção que este valor é tudo menos fixo. A percentagem cobrada como recompensa deve depender de muitos factores, como o mercado (isto é, a procura é elevada - sobe. a oferta aumenta significativamente - desce), a experiência do freelancer em relação a determinado serviço, e a existência de alguma característica que distinga o freelancer (qualidade do trabalho, rapidez de execução, relação com clientes, confiança que inspira, etc).
Após incluir toda esta informação (que espero que seja útil!), acho que a crítica que vou fazer tem sentido:
Se for uma TI a fazer o projecto,a mesma identificaria os papeis necessários para cada tarefa e, consultando a sua tabela de preços, faz as seguintes contas:
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- Web designer (40 horas de design gráfico): 40 horas x 11€ = 440€
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Se for um freelancer, dado que ele faz todos os papeis, excepto os que compra a terceiros, e partindo do principio de tem um preço fixo por hora de 6€, poderá fazer as seguintes contas:
- Design Gráfico (comprado a uma empresa de web design por preço fixo): 300€
- DBA (dado que tem de aprender a mexer em MySQL, vai efectuar um desconto de 50% no preço por hora): 32 horas x 3€ = 96€
- Gestão, Controlo e Reporting (concluiu que necessita apenas de 25 horas uma vez que só faz gestão, controlo e reporting para o cliente e não necessita de controlar as equipas envolvidas por estas não existirem): 25 horas x 6€ = 150€
- Tudo o resto (dado que já tem competências nas áreas envolvidas): 433 horas * 6€ = 2598€
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Não sei se os valores que escolheste são pensados ou não têm base real, mas torço-me sempre um pouco por dentro quando vejo este tipo de remuneração pelo trabalho. Há que manter em mente que isto é trabalho especializado. Bolas, é relativamente comum receber mais de €6 (depois de impostos!) por trabalho indiferenciado, pelo que acho incrível que alguém se sujeite a trabalhar nessas condições (infelizmente, conheço bastante gente!).
Na minha opinião, e mais no que toca a trabalho de design (não conheço o resto dos ramos suficientemente bem para falar), é difícil oferecer a um cliente um preço bastante inferior ao de uma empresa. Assim, o freelancer não oferece tanta vantagem em termos monetários.
As pessoas continuam, no entanto, a trabalhar com freelancers. Isto leva-nos a pensar que, para um cliente, o preço é, frequentemente, apenas um factor de decisão. É, em alguns casos, bem mais importante a confiança na pessoa em questão e a garantia de que ela vai cumprir os prazos/condições acordadas que o preço.