A Sonaecom e a RTP anunciaram ontem uma parceria graças à qual as empresas da holding de telecomunicações da Sonae poderão disponibilizar as emissões e conteúdos da televisão pública nos serviços de triple play (ou 3.Play) - um só "pacote" com comunicações telefónicas, acesso por banda larga à Internet e canais televisivos, à semelhança do que fazem hoje as empresas de televisão por cabo.
Segundo Paulo Azevedo, presidente do conselho de administração da Sonaecom, o serviço 3.Play deverá arrancar comercialmente a seguir ao Verão, sendo, no período inicial, a oferta dirigida sobretudo aos actuais clientes do ADSL do Clix com débitos de 2 megabits por segundo (Mbps) ou mais, residentes em Lisboa e Porto - cidades onde a Sonaecom já pode chegar a 95 por cento dos lares, pois garantiu o acesso às respectivas centrais telefónicas. O serviço telefónico, o acesso à Internet por banda larga e a televisão serão comercializados a 22,5 euros por mês.
Os canais oferecidos pela RTP no âmbito desta parceria serão a RTP 1, a 2, a RTPN, a RTP África e a RTP Memória, mas os responsáveis da Sonaecom reconhecem que nenhum serviço sério deste tipo podia deixar de lado qualquer dos canais privados nem a SportTV, por exemplo - pelo que estão em curso contactos que permitam celebrar acordos com o canal desportivo, a SIC e a TVI.
"Estamos muito contentes com este acordo mas também por ele ser com a RTP" devido à "comunhão de visão sobre o mercado neste sector", em torno de "coisas básicas que devem fazer funcionar o mercado, seja por parte dos públicos seja dos privados", afirmou Paulo Azevedo.
"Com este nosso serviço, haverá maior escolha para o consumidor e não há intenção de fechar nada a ninguém, nem de exclusivismos ou de tapar o caminho a quem tiver criatividade", acrescentou. O responsável da Sonaecom sublinhou mesmo que as novas oportunidades serão tanto para os utilizadores como para os criadores de conteúdos.
Antes, Almerindo Marques, presidente do conselho de administração da RTP, referira que o acordo se insere nos deveres de um operador público de serviço de televisão e que, também por isso, a sua empresa se mantém disponível para celebrar parcerias deste tipo com qualquer dos restantes operadores desta área. "Que este seja o primeiro de outros projectos", concluiu.
A Sonaecom vai usar um conjunto de processos assentes na tecnologia ADSL2+, uma variante daquela (o ADSL) em que se baseia o acesso à Internet por banda larga de centenas de milhares de utilizadores mas que proporciona débitos mais elevados - como, por exemplo, o de 10 Mbps, necessário para o fornecimento em tempo real de filmes ou outros conteúdos de vídeo. Haverá serviços em que o utilizador terá um papel activo na procura do que pretende ver, como, por exemplo, o "clube de vídeo" (com milhares de filmes disponíveis), os noticiários, o desporto ou o time shift, que permitirá continuar a gravar um programa para ser visto mais tarde, mesmo que haja alguma interrupção.
De acordo com Luís Reis, administrador da Sonaecom, além dos cerca de 95 por cento de lares nas cidades de Lisboa e Porto potencialmente cobertos pelo futuro serviço, a holding espera chegar ao final do ano com uma cobertura a nível nacional na ordem dos 45 por cento dos lares com acesso à rede telefónica fixa.
O 3.Play implicará o uso de um aparelho específico (a set-top box) e deverá dispor de débitos e largura de banda suficientes nas linhas de cobre da rede fixa de Portugal Continental, admitindo Luís Reis que os problemas maiores resultantes do estado destas linhas venham a surgir na parte que se encontra no interior dos prédios e das casas dos potenciais utilizadores.