Boas,
Eu já contei a minha história no outro post. No entanto, vou tentar resumir aqui um pouco o meu percurso.
Trabalhei sempre como programador, em varias linguagens.
2003 terminei a licenciatura
2003 primeiro emprego 1200 euros a recibos verdes
2004 "palmadinha nas costas, nao preciamos mais de ti, boa sorte"
depois de 2004 a 2008 andei em outsourcing (muitas palmadas nas costas e boa sorte) em varias empresas daquelas de encher chouriço e em 2008 tive o ordenado mais alto que consegui ter em portugal
fui dispensado, indeminizado e depois com o inicio da crise, os ordenados desceram... o emprego a seguir foi com um salario MUITO mais baixo ao anterior ( quase 500 euros mais baixo ).. Tive que aceitar, já estava farto de estar parado e tinha contas para pagar....
em 2011 mudei de emprego novamente, onde ganhava um bocadinho mais e estive lá até 2013 até que emigrei.
A gota de água que me levou a emigrar foi mesmo o aumento do IRS e os duodecimos. Passei me mesmo. Não ter controlo sobre quanto ganho assim daquela maneira não é aceitavel para mim. Já a taxa extraordinaria do natal no ano anterior nao tinha achado piada nenhuma.
Em Outubro de 2012 decidi que ia emigrar (sozinho) para Inglaterra mas não podia ir "á cowboy", isto é, largar o emprego cá e ir sem nada garantido. Não podia arriscar tal situação pois estava a pagar carro e casa.
Este foi o meu plano:
1) Marcar a primeira viagem.
Marquei as ferias normalmente no meu emprego mas guardei alguns dias para ter margem de manobra. O RH sabia do meu plano e compreendeu porque é que eu mudava constantemente as ferias.
2) Começar a pesquisar sobre entrevistas em inglaterra, formatos do cv, oportunidades de emprego, melhores cidades para trabalhar,etc.
Sites de emprego ingles, blogs, foruns, pesquisei tudo... Tenho o meu CV num formato que me orgulho imenso, tudo faz sentido, ordem de informação para quem lê, do mais importante para o menos importante, tamanho da fonte, formato, etc, etc.
Estou inscrito numa data de sites de emprego ( reed, jobsite, technojobs, monster, entre outros ). Li alguns blogs de emigrantes portugueses em inglaterra para sacar mias alguma informação com as experiencias deles.
Ainda hoje recebo telefonemas e emails de propostas de emprego. Disso aqui há aos pontapés, pelo menos na nossa área.
3) Buscar um numero de telemovel inglês
Muito importante. Toda a gente me manda passear ( porque não querem pagar roamings) mas quando eu digo isto mas a verdade é que dois meses com o numero portugues recebi 3 chamadas e numa semana com o numero ingles recebi 11 chamadas.... Sim, muitas eram agencias de recrutamento, mas com numero tuga nem essas ligavam.
Na ultima ida agendada a Londres, recebi um telefonema ainda no aeroporto de Heathrow na viagem de regresso para portugal de uma empresa que me fez varias perguntas. Na semana seguinte, já eu em Portugal, essa mesma empresa chama-me para uma segunda entrevista. Disse que eu não tinha disponibilidade financeira para regressar a inglaterra tão cedo ( nunca pensei que fosse entrevista para fazerem proposta logo, ja tinha tido destas ) e eles disseram que de mim, só precisvam da disponibilidade ( meter um dia de férias ) que eles tratavam do resto. E assim o fiz. Fui e vim no mesmo dia a entrevista e fiquei com o emprego.
Durante todas as minhas idas a inglaterra, tive 3 propostas ( aceitei uma claro ). Os valores das propostas oscilavam entre as 60.000 libras / ano e as 35.000 libras / ano.
E pronto, desde Agosto que sou emigrante. Ganho quase 3 vezes mais do que ganhava em Portugal ( também tenho mais despesa ) mas em termos de chegar ao fim do mês aflito.... ainda nunca aconteceu e estou a pagar casa e carro em lisboa e casa aqui.. Em portugal acontecia sempre que tinha uma "surpresa" ( multa, arranjo do carro ou mota ou outra despesa inesperada ) em que chegava ao final do mes com saldo negativo.
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Em termos da minha experiencia e das situações que tenho encarado:
Casa
Um 31 arranjar casa em Oxford, principalmente no final de Agosto, inicio de Setembro que toda a gente está a regressar às aulas e anda tudo á procura do mesmo. Tive um mês em arrendamentos de curta duração (3 casas diferentes). Que seca, sempre a mudar de casa....
Burocracia
Banco - O maior pincel em inglaterra é abrir conta em banco (conta decente, não é daquelas com limitações) quando se está lá há tão pouco tempo. Desde os problemas com a máfia brasileira à uns anos atrás que eles acabaram com as facilidades todas. Tive que usar a morada de um amigo meu em londres, com uma declaração do emprego com montes de informação que nem diz respeito ao meu emprego ( a minha morada anterior e onde nasci ) blablabla....
National Insurance - O numero pelo qual somos identificados em termos de impostos, segurança social, utente, etc... é um numero para tudo. Esta entrevista foi facil, mas como estava a usar a morada do meu amigo, tive que ir para a zona dele ( Hertfordshire ) para fazer a dita entrevista. Algumas duas horas de viagem de camioneta. Ficou feita, passado um mês tinha o numero em casa do meu amigo.
Atenção aos impostos e dupla tributação no ano em que emigram (isto só é importante se por acaso forem investigados pelo fisco português). Há acordos para cada país.
Emprego
Os ingleses são muito burocraticos. Não me deixaram começar a trabalhar enquanto não conseguisse passar nos testes de "Health and Safety" da empresa ( saber onde estao os extintores, para que serve cada tipo de extintor, saber onde é o rendez-vous point no caso de emergencia, etc, etc ). Assim eles teem uma prova que, em caso de algum problema comigo numa situação de perigo, que eu tinha todas as informações necessárias para sair do edificio em segurança. Tenho um formulario para preencher para refilar com o material que me é entregue. Se gosto do monitor, se preciso de uma cena para levantar o portatil ao nivel aceitavel, se gosto da cedeira, se gosto do portatil, etc,etc...
Nunca vi nada disto em Portugal, lol...
Se por acaso vierem para cá e tiverem chefes ou patrões naturais do País de Gales, preparem-se para não perceber a ponta dum corno do que eles dizem. É tipo os açoreanos (sem intenção de ofender) daqueles que se vê que viveram lá a vida toda...
O que me faz confusão mesmo é sair às 17h porque teem que ligar os alarmes na empresa, lol. Epa, eu gosto e agrada-me mas faz me confusão porque tenho muita coisa para fazer e prefiro adiantar trabalho naquela altura que estou com a pica toda do que continuar de manhã e poder "perder" o fio à meada.
Feriados aqui em Inglaterra, muito poucos... Creio que por ano são menos que em Portugal, acho que não há feriados por concelho...por exemplo, eu desde que estou a trabalhar para ingleses ( agosto ), só vou apanhar 3 feriados este ano .... um em agosto, o natal e o boxing day.
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Neste momento estou na Letónia, a fezer training na aplicação a que fui alocado. A "fábrica" desta aplicação é aqui. A minha empresa só a arquitectou, o desenvolvimento é feito por terceiros. Fui contratado como Tech Lead desta aplicação, tenho que a conhecer bem para poder estimar tempos e prazos de alteração, correcção de bugs, subidas a produção, etc.... Vou programar menos, é verdade, mas para já estou satisfeito.
O meu treino aqui na Letónia termina a 18 de Novembro, altura em que regressarei a Oxford, já com o know-how necessário para poder gerir esta aplicação.
A experiencia até agora está a ser agradavel... É diferente... Apesar de saber falar inglês fluentemente ( tive 12 anos de inglês ), ainda hoje me sinto um bocado isolado ( sim, estou na letónia mas mesmo em oxford sentia o mesmo que sinto aqui ). Os meus amigos tugas estão em Londres, eu estou em Oxford. É um tirinho mas nem sempre posso ir lá.
Se por algum motivo, perder o emprego, não tenho quaisquer intenções de regressar a Portugal para trabalhar. Acho que não me vou conseguir re-habituar à realidade portuguesa de IT nem à realidade portuguesa em termos de impostos.
Espero que seja util as informações que aqui dou.